domingo, 19 de dezembro de 2010


Libidinosa


Dos pedregulhos ao norte às terras roxas do sul um olhar esverdeado a me endoidecer. Ao centro um verde tão claro e doce banhado as beiradas por um mel peculiar, assim eram seus grandes olhos demarcados cuidadosamente por um preto característico. Deixa-se sempre presente nos coração andarilhos que por ela passavam. E como não podia ser diferente, ficou gravado no meu.
Seus lábios encarnados pela vaidade noturna encantavam-me com uma imparcialidade indescritível. Seu rebolado compassado paralisava-me.  E a cada hora um novo rosto em seu sombrio quarto, eram homens a mil, numa virilidade ímpar querendo-a como nunca. Seu gargalhar era de imensa companhia, seu gemido insuperável. De tanto acompanhá-la sabia cada gesto seu e nada me parecia igual.
Sentia-me único em seus braços e outro qualquer em sua pornografia. Não há como ser diferente depois de tantos clientes. Porém queria apenas uma dança, de uma donzela sem igual, uma descompassada mulher, aparentemente sem valor. Mas sua sabedoria era desigual a qualquer outra.
Suas vestimentas curtas, suas meias rasgadas... Pensava a festa estava encerrada, não ia ter como transformá-la. Por contraponto o fiz. Agora entre as mais castas, de uma postura ereta um tagarelar formal, encontrávamos nas folias mais privadas. Não era uma dama de companhia, e sim a mais perfeita delas. Vinda de um submundo fazia-se tão invejada por todas. Debochava freqüentemente destas. Pois sabia que nos pensamentos mais conservadores era apenas a libidinosa.
Ao meu coração sempre foi aqueles olhos tão doces, aquela boca afogueada e uma dama de fato. Eu como soberano e intelecto jamais pensei numa donzela tão díspar, todavia foi conhecendo-a a fundo que percebi, a experiência a trouxe um entendimento superior, uma postura firme e um amor infindável. Assim, sem querer, apaixonei-me perdidamente pela libertina, nos olhos alheios, pois com certeza não a conheciam perfeitamente como Eu.

Bento A. G.

"Quero o que não se pode explicar aos normais.
Sobre o porquê de tantos porquês,
E responder
Entre a razão e a emoção eu escolhi você!"


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